Como fazer as restaurações durarem mais? A resposta pode estar nos mexilhões
Pesquisadores criam novo material para restaurações de dentes, 10x mais eficiente que os atuais, utilizando estratégia baseada na natureza.
Teste de imaginação: você consegue relacionar mexilhões com sua saúde bucal? E com obturações?
Pois é exatamente esta história que contaremos hoje. Mexilhões foram a inspiração para um grupo de cientistas desenvolver uma tecnologia revolucionária, que promete obturações, coroas e implantes dentários mais duradouros. Antes de conta-la, vamos explicar brevemente o que causa os desgastes nas restaurações!
COMO FUNCIONAM AS RESTAURAÇÕES – E POR QUE ELAS SE DESGASTAM?
Normalmente, uma restauração de dente dura de 05 a 10 anos. Porém, muitas vezes, o paciente precisa retornar à cadeira do dentista em menos tempo para um ‘retoque’. Motivos para isso é que não faltam.
Como o dente é uma ‘ferramenta’ que utilizamos todos os dias, seu desgaste é intenso. Alguns elementos que desgastam continuamente os dentes, causando danos à estrutura, são:
- alimentos ácidos (sólidos ou bebidas) – café e refrigerantes de cola são exemplos,
- alimentos duros,
- falta de cuidados com a saúde bucal (como por exemplo escovação inadequada),
- bruxismo noturno
Somando-se esses elementos, temos um ambiente em que o dente – e as restaurações – estão em constante ‘ataque’. Quando há desgaste ou pressão suficientes sobre as restaurações, pequenas ‘fraturas’ começam a se formar em sua superfície. Com os atritos da mastigação, elas rapidamente se propagam por toda a dimensão da restauração, exigindo que o dentista realize um ‘conserto’ no dente.
Busca-se há vários anos uma maneira de criar resinas e compostos mais resistentes para fazer restaurações. Um exemplo de novidade que surgiu há alguns anos são as micro-partículas. Todos os compostos dentários usados hoje já possuem essas micro-partículas em sua formulação, aumentando a rigidez e impedindo que a restauração ‘encolha’ após ser instalada no dente. Porém…com a introdução das micro-partículas, conforme o composto endurece, ele se torna mais fácil de se fragmentar.
Com a introdução das micro-partículas, conforme o composto endurece, ele se torna mais fácil de se fragmentar.
Assim, pesquisadores têm buscado um material seguro para realizar restaurações dentárias, que seja resistente o suficiente após um tempo, mas inicialmente maleável, permitindo que ‘grude’ bem em uma superfície irregular como a dos dentes. Além disso, ele precisa ser extremamente durável, evitando o desgaste natural que ocorre dentro da boca. Eis uma tarefa complicada. Mas que pode ter sido alcançada este mês por pesquisadores da Universidade de Santa Barbara, nos Estados Unidos. E com uma ajudinha da Natureza.
OS MEXILHÕES E O SEGREDO DAS RESTAURAÇÕES
Os pesquisadores olharam para um dos ambientes naturais mais inóspitos – a costa marítima – e identificaram uma oportunidade de aprimorar nossa saúde dentária. O segredo para restaurações mais eficientes pode estar em estruturas microscópicas dos mexilhões.
Os mexilhões mantêm-se grudados às pedras na costa mesmo em meio a condições complicadíssimas: calor forte durante o dia, frio à noite, arrebentação de onda durante as marés altas, seca nas marés baixas, ventos cortantes, impacto de outros animais marinhos…mesmo assim, eles sempre ficam bem ‘grudadinhos’.
Outro ponto interessante: os moluscos mantêm-se presos, firmes, às pedras, que são superfícies bastante irregulares e constantemente molhadas. Tudo a ver com a nossa boca.
Os moluscos mantêm-se presos, firmes, às pedras, que são superfícies bastante irregulares e constantemente molhadas. Tudo a ver com a nossa boca.
Analisando a maneira como os mexilhões conseguem se manter fixos, os cientistas descobriram um mecanismo chamado de ‘ligações dinâmicas’. Em nível molecular, as estruturas de aderência dos mexilhões são recobertas por uma camada finíssima, de 5-10 micrômetros, extremamente resistente. Essa camada é feita por inúmeras pequenas ligações químicas, capazes de dissipar energia sem comprometer a adesão geral da estrutura, nem suas propriedades mecânicas.
“Imagine que você tenha apenas uma única ligação forte [entre as moléculas]”, explica Kollbe Ahn, cientista de materiais na Universidade de Santa Barbara e um dos autores do estudo. “Ela pode ser forte, mas, quando quebrar, quebrou. Se você tiver várias ligações mais fracas, você terá de quebrá-las uma por uma. Isso demanda mais energia do que quebrar apenas uma ligação, então o material se torna mais forte e resistente”.
NOVO COMPOSTO PARA RESTAURAÇÕES É 50% MAIS RESISTENTE
Ao estudar estes conceitos, os pesquisadores criaram uma nova formulação para restaurações dentárias, baseada na estratégia dos mexilhões para se aderirem às pedras.
O novo composto possui todas as características esperadas: é maleável no início, permitindo que seja aplicado em superfícies irregulares, e endurece em pouco tempo. Ele mostrou-se 10x mais aderente e 50% mais resistente quando comparado com as resinas atualmente utilizadas pelos dentistas. Além disso, não possui nenhuma toxicidade.
O novo composto é 10x mais aderente e 50% mais resistente quando comparado com as resinas atualmente utilizadas
Os cientistas esperam que o composto possa estar no mercado já nos próximos anos. Com isso, os dentistas terão em mãos uma maneira mais resistente e confiável de ‘consertar’ os dentes de seus pacientes, que poderão aproveitar por mais tempo os resultados de obturações, restaurações e próteses. E tudo isso graças à ‘tecnologia’ natural de pequenos moluscos…